O MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO – BAHIA vem a público manifestar o seu repúdio as falas da desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), Rosita Falcão, que baseada apenas em achismos e com uma análise superficial ataca as cotas raciais, uma bandeira histórica de luta do movimento negro, e até o momento a maior política pública de reparação implementada na história deste pais ainda tão desigual.
Entendemos de onde vem este discurso maquiado de preocupação, mas na verdade encharcado de elitismo e protecionismo. Cida Bento — eleita em 2015 pela The Economist uma das cinquenta pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade — cunhou um termo para isto: PACTO NARCÍSICO DA BRANQUITUDE.
Sempre o mesmo perfil de pessoas que, sentado em décadas de privilégio de suas famílias, alcançam espaços de poder e puxam a carta da meritocracia para justificar o sistema racista que é construído para perpetuar o privilégio entre os seus.
Diferente da superficialidade no seu argumento, baseado em achismos, trazemos uma análise de DADOS, que após 09 anos, constata que entre 2014 e 2023, estudantes que acessaram a educação superior federal por meio de cotas tiveram uma taxa de conclusão 10% maior que a de não cotistas, de acordo com dados divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) nesta quinta-feira (03/10/2024)¹.
Outra informação para rebater o seu discurso, no mínimo preconceituoso, é sobre um estudo realizado pela USP que acompanhou o desempenho das primeiras turmas com estudantes cotistas desde a sua implementação, em 2018. O resultado do levantamento demonstra que a diferença de desempenho entre os cotistas e não cotistas é quase imperceptível, e só é maior no início da graduação.²
Desde a Lei nº 1, de 14 de janeiro de 1837 ³, que proibia a frequência de escravos e pretos africanos, ainda que livres ou libertos, nas escolas públicas, que o povo negro deste país já havia percebido que a justiça tem cor e classe social.
O seu discurso, 187 anos depois, só vem reafirmar que pouca coisa mudou.
Talvez, há alguns anos atrás, o privilégio de estudar nas escolas de elite fosse um indicador suficiente para competir entre os seus e acessar determinadas castas nas universidades públicas, como foi dito. Mas hoje em dia, e também por conta de ações afirmativas como as cotas, os estudantes vão precisar conviver dentro do espaço universitário com alunos que não tiveram a mesma sorte de nascer “em berço de ouro” mas que, para desespero dos privilegiados, possuem a mesma – ou como tem sido comum – maior capacidade intelectual e cognitiva que os filhos das castas.
E, para finalizar, abaixo seguem as fontes dos dados citados acima, afinal não temos o privilégio da mediocridade, nem mesmo para rebater o preconceito travestido de preocupação.
Movimento Negro Unificado – Bahia
Referências:
¹https://www.cnnbrasil.com.br/educacao/alunos-cotistas-e-do-prouni-tem-melhores-taxa-de-desempenho-segundo-inep/
²https://www.terra.com.br/visao-do-corre/alunos-cotistas-e-nao-cotistas-tem-o-mesmo-desempenho-na-graduacao,9179136cb0853c10eebda5a4fd8546b52d3ar9k4.html
³ https://futura.frm.org.br/conteudo/mobilizacao-social/artigo/nao-somos-todos-iguais