Movimentos Negros e de Mulheres Negras convocam a população para Ato Contra o Genocídio do Povo Negro, na próxima sexta-feira (25), em Salvador (BA)

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Só em 2025, foram registradas 13 chacinas em Salvador e Região Metropolitana, sendo oito com participação de agentes do Estado

Diante do crescimento da violência policial e do número crescente de chacinas que vitimam majoritariamente pessoas negras, organizações do movimento negro e de mulheres negras da Bahia convocam a população para o Ato Contra o Genocídio do Povo Negro, que acontecerá no dia 25 de abril, às 9h, em frente à Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), no Centro Administrativo da Bahia (CAB).

O protesto denuncia o massacre em curso nas periferias da Grande Salvador, que abrange a capital baiana e toda região Metropolitana (RMS), onde a atuação policial tem resultado em mortes e na impunidade de quem deveria garantir a segurança da população.

Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, nos primeiros quatro meses de 2025 foram registradas 13 chacinas na RMS, sendo oito com participação de agentes do Estado, um aumento de mais de 400% em relação ao mesmo período de 2024. Ao todo, 53 pessoas foram mortas, sendo 38 em ações policiais. As vítimas incluem sete adolescentes e, entre os identificados, a maioria são pessoas negras. Salvador lidera o mapa da violência armada, com 11 chacinas e 47 mortos em 2025. Também foram registrados casos em Dias D’Ávila e Lauro de Freitas.

Entre os objetivos do ato está também a cobrança por mudanças estruturais na Política de Segurança Pública do estado. Gabriela Ashanti, do Odara – Instituto da Mulher Negra, afirma que o protesto é um alerta ao Estado de que a sociedade civil, especialmente o movimento negro e o movimento de mulheres negras, acompanham atentamente as decisões tomadas nessa área. “É importante que a sociedade civil se organize para enfrentar a violência de Estado, mas também participar do monitoramento da política de segurança pública, que é absurdamente fechada e ensimesmada nas polícias, sem participação social, sem rigor na produção dos dados e sem transparência.”

O representante do Afro Gabinete de Articulação Institucional e Jurídica (AGANJU), Samuel Vida, também faz um duro diagnóstico sobre a política de segurança no estado. “A elevadíssima letalidade policial é resultado de escolhas políticas das gestões petistas que transformaram o confronto e os corpos de jovens negros empilhados em índices de suposta eficiência da política de segurança pública. Esta opção transformou as comunidades negras em palco do terror racial e a Bahia na locomotiva do genocídio negro no Brasil. Somente a enérgica denúncia e responsabilização política e jurídica dos atuais governantes pode parar o banho de sangue promovido pelo governo baiano.”

Entre as pautas centrais do ato está a exigência de mais controle e transparência nas ações policiais. Samira Soares, coordenadora geral do Movimento Negro Unificado (MNU) na Bahia, reforça essa demanda ao destacar a campanha “Câmera nas polícias já!”, puxada pelo MNU. “Exigimos câmeras nos fardamentos de toda a corporação e um rígido monitoramento contra as edições de imagens. Por entendermos que, enquanto movimento negro, é inadmissível que ainda, num estado tão enegrecido, sejam os nossos corpos tombados diariamente e espetacularizados pela mídia baiana”, destaca.

Os ativistas pretendem protocolar junto à Secretaria e à Governadoria, um documento reforçando a importância da participação social nas políticas de segurança pública, bem como a proposição de medidas importantes para promover a redução da letalidade policial.

Serviço:
O quê: Ato Contra o Genocídio do Povo Negro.
Quando: 25 de abril (sexta-feira), às 9h.
Onde: Secretaria de Segurança Pública da Bahia – CAB, 4ª Avenida, nº 430.

Sobre

Movimento Negro Unificado (MNU) é uma organização pioneira na luta do Povo Negro no Brasil. Fundada no dia 18 de junho de 1978, e lançada publicamente no dia 7 de julho, deste mesmo ano, em evento nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo em pleno regime militar. O ato representou um marco referencial histórico na luta contra a discriminação racial no país.