Infelizmente viemos mais uma vez manifestar nossa indignação por conta do racismo cada vez mais evidente e denunciado em empresas aéreas. Nossa irmã, Samira Soares, militante do MNU Salvador, doutoranda em Letras pela UFBA, foi vítima de racismo por um membro da tripulação do voo JA589, da companhia JetSmart.
Até quando vão nos tratar de forma violenta e desrespeitosa mesmo quando conseguimos acessar espaços que nos foram negados historicamente? Como importante organização do movimento negro, exigimos explicações da empresa JetSmart e que o funcionário seja identificado e devidamente punido. Além disso, reforçamos a necessidade de melhor treinamento dos funcionários de empresas aéreas para que esses casos que temos acompanhado mais intensamente nos últimos dias não voltem a se repetir.
“Racismo no voo JA 589, Santiago x Guarulhos da empresa JetSmart
Voltando do Chile ao Brasil, no dia 15 de Maio, as 05h45 no voo JA 589, Santiago x Guarulhos da empresa Jet Smart vivi um episódio grave de violência racial. Após utilizar o banheiro e retornar ao meu assento, momento em que fui interpelada pelo comissário de bordo da JETSMART, solicitando que eu retornasse ao banheiro para limpar o mesmo pois havia supostamente respingado água no carpete do banheiro quando lavei as mãos após usá-lo.
Importante ressaltar que o mesmo comissário de bordo que me interpelou, único homem entre os funcionários, em uma postura completamente fora do padrão e que eu nunca tinha presenciado em uma aeronave, é branco e já vinha apresentando uma postura hostil comigo. Desde a minha entrada percebi olhares invasivos que me seguiam durante o percurso, além disso, assim que eu entrei no banheiro ele havia batido com força na porta enquanto eu usava o banheiro.
Fiquei em estado de choque, porque ele além de arrogante na forma como falava, simplesmente estava impondo que eu, uma mulher negra, me levantasse e fosse secar o banheiro que segundo ele, estaria todo molhado. Entendo que enquanto passageira e cliente da empresa, jamais deveria ser abordada e exposta a tal constrangimento. Apesar de saber dos meus direitos, ter doutorado e ser pesquisadora do Trabalho doméstico no Brasil, e suas implicações… eu sou uma mulher negra, jovem, fazendo uma viagem internacional, e solitária.
No momento do ato a minha companheira estava sentada em outra cadeira muito distante da minha. O mal estar me causou uma grande impotência, não pude gritar, falar alto para chamar atenção das pessoas, porque fui tomada pelo medo de ser vítima de outras violências institucionais, até de que o voo retornasse ao Chile pelo meu caso e a justiça chilena não me amparasse. O episódio ocorreu no meio do voo, e durante mais ou menos 2h30 que restavam para o fim do voo, fiquei completamente tomada pelo medo e preocupação do que mais eu poderia sofrer até o fim da viagem. Ainda que outras pessoas tivessem visto, e nada tenham falado, eu fui humilhada e constrangida na frente de todos, senti vergonha pela exposição indevida. O tom que foi utilizado foi alto e hostil, incondizente inclusive com o comportamento reservado a essa profissão tradicionalmente pelo mundo.
Jamais conseguirei traduzir em palavras o que eu vivenciei e os efeitos disso em mim e na minha vida. Por hora, denuncio para que a empresa responda pelos atos de sua tripulação. E para que não admitamos mais ser tratadas assim em espaços que deveriam nos fornecer um mínimo de conforto e segurança. Eu paguei pelo serviço, mas não fui vista como cliente. Ele colocou sobre mim todo o seu ódio racial, me chamou como se ali naquele momento eu estivesse trabalhando como Serviços Gerais. E tudo isso porque eu sou uma mulher negra.
Até quando pessoas negras serão hostilizadas nos aeroportos? Até quando precisaremos passar por esses espaços por medo de sermos hostilizadas, e ter a certeza que em algum momento seremos? Eu estou exausta, queria apenas viver minhas férias como qualquer outra pessoa, mas isso a JetSmart, empresa que eu contratei, não me permitiu. Racismo é crime, e esse funcionário e empresa precisam ser responsabilizados. Eu já registrei meu Boletim de Ocorrência e formalizei a denúncia junto a SEPROMI”.
Ver essa foto no Instagram
Uma publicação compartilhada por Movimento Negro Unificado Bahia (@mnubahia)